“ETHOS” E DESAFETOS: RETÓRICA E AUTORIDADE NO CONSUMO

Alexandre Carvalho, Maira Martins Moraes

Resumo


Se o alimento in natura, sem qualquer intervenção humana, é um meio, uma extensão da natureza sem finalidade até que a humanidade ou o animal o prove e torne uma prótese nutritiva, uma extensão para a sobrevivência, o alimento processado, industrialmente engenhado, ou mesmo ao contrário, o alimento preciosamente elaborado por um chef, que lance mão dos ingredientes e insumos mais saudáveis, orgânicos, das técnicas mais precisas de apreensão e aproveitamento da totalidade do sabor e de suas propriedades nutritivas, é também um meio, porém uma extensão ou prótese entre iguais, pressupondo de que o homem é o alvo de partida e de chegada, tornando este homem o “ethos” de si mesmo; autoridade máxima da retórica alimentar, investidos de um “ethos” original que nos assegura de que somos hábeis para recomendar e persuadir interlocutores em rede midiática, global e totalizante, simplesmente porque comemos e aprendemos ancestralmente a buscar e a fazer o nosso próprio e “melhor” sustento, alguns mais qualificados e outro menos em competências técnicas para isso. O presente artigo se dispõe a discutir na contemporaneidade a delegação, equivocada ou não, do “ethos” alimentar, a quem conferimos e como instituições físicas e jurídicas se revestem do poder de auto-conferência, fazendo uso do alimento como mídia, numa esfera em que o alimento-mídia transforma-se em moeda econômica, poder e controle do comer-conhecer. Ao mesmo tempo, propõe-se refletir propostas de revisão desses contratos sociais de autoridade e do modus operandi do comer-conhecer. Ao final, abrindo-se o debate para o “modo de preparo” da retórica e autoridade no consumo, pretende-se o convite à degustação de seu principal ingrediente: o “ethos” da experiência. Sem mais desafetos.


Palavras-chave


Comida; Antropologia; Ética; Alimentação

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