ARTICULAÇÕES DO MARAVILHOSO E DO VERISMO NA LITERATURA INFANTOJUVENIL

Regina Silva Michelli

Resumo


A Literatura Infantojuvenil, em seus primórdios, apresenta-se encharcada de elementos do maravilhoso, associado à presença da magia e do encantamento. Personagens sobrenaturais, objetos mágicos, deslocamentos impossíveis, metamorfoses, espaços encantados compõem o cenário das narrativas maravilhosas voltadas ao público infantil e juvenil. O maravilhoso traz a marca do sobrenatural, seres e eventos que fogem ao viver cotidiano, com a presença de fadas, ogros, gigantes e anões, metamorfoses, varinhas e tapetes mágicos, em um cenário caracterizado por castelos, florestas, reis, rainhas e princesas à espera de seu príncipe encantado. O sentido dicionarizado da palavra assinala a idéia de algo admirável, que encerra maravilha ou prodígio, associado à intervenção sobrenatural, a um fenômeno que não é captado pela lógica do senso comum, tampouco pela racionalidade. A origem do maravilhoso remonta a tempos pretéritos, associada na literatura às narrativas primordiais, ligadas ao pensamento mágico. Por outro lado, muitas narrativas estão impregnadas de aspectos profundamente ligados à dureza da vida cotidiana, com personagens enfrentando o abandono infantil, a fome, a crueldade, a morte. Por verismo, compreende-se uma maior aproximação da realidade, as narrativas apresentam e descrevem coisas e animais que existem com o objetivo de reproduzir o mais fielmente possível o real, centrando-se numa abordagem objetiva, verossímil. A literatura dita realista coaduna-se ao avanço do conhecimento científico e às tentativas de se explicar os fenômenos através do pensamento lógico racional, afastando-se do pensamento mítico. Nas histórias da tradição – os contos de Charles Perrault, dos irmãos Grimm e de Hans Christian Andersen – já se encontram, ao lado do maravilhoso, marcas da violência, da trapaça, da exploração humana. Este trabalho integra a pesquisa intitulada “A Literatura Infantojuvenil nas dobras do maravilhoso e do verismo: perspectivas acadêmico-culturais”, cuja proposta é investigar as marcas e as funções do maravilhoso e do verismo nas obras de Literatura Infantojuvenil, observando-se o espaço reservado à fantasia e à realidade na trama ficcional. Busca-se refletir criticamente sobre as estratégias narrativas utilizadas por escritores de Literatura Infantojuvenil para representar o mundo considerado real e o do “faz-de-conta”, em que pese analisar o papel do maravilhoso, enquanto gênero textual, e o da fantasia na construção de um “real” ficcional. No berço da

Literatura InfantoJuvenil encontram-se tanto a magia presente no maravilhoso, quanto a violência que cerca personagens e situações: pensar analiticamente na existência desses laços na estrutura dos textos literários - enquanto representações de mundo - orienta esta pesquisa. O maravilhoso está presente em muitas narrativas, primordiais ou contemporâneas. Na busca de verificar sua marca em textos da tradição, nosso olhar se volta para os contos de Charles Perrault, um dos pioneiros na Literatura Infantojuvenil. Seu grande mérito foi a recolha realizada de contos narrados oralmente, ainda que se lhe atribua certa delicadeza na escrita e um valor artístico pelo jogo de linguagem, construído através da fantasia e do maravilhoso. A obra publicada por Perrault recebeu o título de Histórias ou Contos dos Tempos Passados, com Moralidades, com o subtítulo Contes de Ma Mère l’Oye Contos da Mamãe Gansa. Assim, partindo-se da leitura dos contos de Perrault, busca-se analisar o maravilhoso e o verismo em suas narrativas, observando-se em especial a tematização da morte, simbólica ou real, e a contrapartida do maravilhoso frente às adversidades apresentadas nos contos. Como fundamentação teórica, a pesquisa sustenta-se nos estudos de Nelly Novaes Coelho, Regina Zilberman e Marisa Lajolo, ligados à Literatura Infantojuvenil. Apoia-se também nos trabalhos dos historiadores Robert Darnton, Jacques Le Goff e Philippe Áries. Sobre maravilhoso e verismo, há ainda as obras de Todorov e Jacqueline Held.


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ISSN: 2317-5028

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