ASPECTOS COMPORTAMENTIAS E REPRODUTIVOS DE NOTHOCRAX RUMUTUM (SPIX, 1825) EM CATIVEIRO (AVES, CRACIDAE)

Antonio Carlos Palermo Chaves

Resumo


Entre os Galliformes, a família Cracidae congrega um elenco bastante uniforme de aves exclusivas do Novo Mundo, encontradas do Sul dos Estados unidos a sul do Brasil e norte da Argentina. Ainda que não haja consenso sobre a composição desse grupo, admite-se hoje a existência de cerca de 50 espécies distribuídas em 11 gêneros distintos (Strahl; Schmitz, 1997). Em termos gerais, os Cracidae são aves silvícolas que permanecem grande parte de suas vidas nas copas das árvores, embora diversas espécies, sobretudo aquelas pertencentes aos gêneros Nothocrax, Mitu, Pauxi e Crax, possam amiúde ser observadas caminhando pelo solo da mata em busca dos frutos caídos, folhas e dos pequenos animais que constituem seu alimento. Não deve causar surpresa, portanto, que os vários representantes desse grupo nidifiquem em árvores, arbustos e mais raramente no solo, construindo estruturas um tanto pequenas com ramos, trepadeiras e outras matérias vegetais, que formam uma plataforma achatada posta ao abrigo da vegetação densa entre a folhagem ou oculta em uma latada de cipós. Apesar de bastante conhecida e descrita por Johannes Baptist von Spix (1825), Nothocrax urumutum (Figura 1) foi considerado uma espécie ao extremo aberrante e sem parentesco definido com nenhum outro Cracinae graças à sua plumagem de colorido e padrão muito peculiares, bem como pela presença de uma face nua única entre todos os Cracidae (Vaurie, 1968). Habitam as florestas de igapó e de terra firme da bacia amazônica, tendo sido assinalada no sul da Venezuela, sudeste da Colômbia, leste do Equador, nordeste do Peru e partes adjacentes do Brasil entre os rios Madeira e Purus e no alto rio Negro, havendo indícios não confirmados de sua presença no sul do Pará (Sick, 1985). O trabalho teve como objetivo preencher algumas das lacunas existentes sobre a biologia de Nothocrax urumutum, sobretudo em seus aspectos comportamentais e relativos à reprodução dos Cracidae. O trabalho foi baseado em filhotes e adultos de Nothocrax urumutum pertencentes ao plantel do Criatório Científico “Rodeo Drive”, situado na Ilha de Guaratiba, Rio de Janeiro, e registrado no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente, Superintendência do Rio de Janeiro, sob o número 0447/90. Composto por dois pares, o grupo fundador terminaria por dar origem a 28 filhotes durante o período considerado, dos quais 18 foram acompanhados por um período de até 67 meses. Os seis primeiros filhotes foram incubados pelos próprios pais em ninhos pré-fabricados compostos por cestos de palha com 60 cm de diâmetro e 20 cm de profundidade, ao passo que os doze seguintes foram incubados artificialmente em chocadeiras Grumbach modelo BSS 160, a uma temperatura de 37,4oC e umidade relativa de 65%. Todos os exemplares receberam rações específicas para os Cracidae, as quais compreendem um primeiro tipo “inicial” destinado a ninhegos com até 60 dias de vida, bem como uma ração “de crescimento” para os jovens de até 125 dias e uma outra “de manutenção” para exemplares mais velhos e adultos. Após a eclosão, os jovens incubados artificialmente eram alojados por dois meses em criadeiras de madeira e tela de 90 x 60 x 30 cm, providas de lâmpadas de aquecimento de 60 watts, sendo posteriormente transferidos para dependências semelhantes às utilizadas para os adultos, que eram mantidos em viveiros de alvenaria e tela de arame de 4,0 x 2,0 x 3,6 m, desprovidos de vegetação e com o piso de areia lavada. O estudo, manejo e acompanhamento dos casais pertencentes ao grupo fundador e dos filhotes de diferentes idades exigiu um mínimo de 12 horas semanais. A observação direta dos hábitos em cativeiro dos filhotes de mais idade e dos adultos foi efetuada sem o auxílio de qualquer instrumento, exceto pelo registro de algumas vocalizações realizado com um gravador Sony TCM-5000 EV. As medidas dos ovos examinados foram tomadas com um paquímetro Mitutoyo digital com precisão de 0,01 mm, enquanto os pesos foram obtidos através de balanças digitais Scientech SE 5550 e Toledo Exata 2SC com capacidade de 500 g e 5000 g. A princípio, os jovens de Nothocrax urumutum atingiriam a maturidade sexual entre o 24o e o 42o mês de vida, momento em que as fêmeas da espécie realizam sua primeira postura. Os primeiros ovos das fêmeas de Nothocrax urumutum possuem medidas ligeiramente maiores que aqueles produzidos pelos exemplares com mais idade, pois sua massa atingiu entre 107,5 e 121,4 g, enquanto que o comprimento variou entre 71,3 - 78,3 mm e a largura entre 51,1 - 54,4 mm. Em comparação, uma série de ovos férteis produzidos por fêmeas mais velhas de Nothocrax urumutum alcançou entre 78,6 - 138,2 g de massa, 69,5 - 80,5 mm de comprimento e 49,6 - 55,9 mm de largura. A postura de Nothocrax urumutum compõe-se de dois ovos brancos imaculados de formato oblongo e casca bastante rugosa, sendo que o total de ovos postos por exemplares das mais diferentes faixas etárias alcançou entre 69,5 - 80,5 mm de comprimento, 49,6 - 56,3 mm de largura e 78,6 - 138,2 g de massa, o que representa de 4,5% a 7,9% da média da massa corporal de uma ave adulta, variação considerável também registrada em vários outros representantes da família. Os machos de Nothocrax urumutum não se envolvem com o choco, tendo sido observados apenas mantendo guarda ao redor do ninho.


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