"DEIXE-ME GRITAR”: MEMÓRIA, CENSURA E TELEDRAMATURGIA

Alex dos Reis Saraiva, Ednaldo Oliveira Pinto

Resumo


O presente trabalho expõe a atuação da censura nas telenovelas brasileiras, mais precisamente no período em que o Brasil permaneceu sobre a égide militar (1964-1985). Relata a presença maciça da censura em tais produções folhetinescas partindo do princípio que os censores mantinham o olhar redobrado nas telenovelas sabendo do poder que elas exerciam sobre população. Procura explicitar sob o prisma da memória social, e à luz dos estudos de “censura política” e “censura moral” de Marcondes Filho (1988), o impacto que a teledramaturgia mantinha (e ainda mantém) sobre a sociedade brasileira, pois não só o governo tinha poder de vetar certos capítulos, cenas ou diálogos, mas também a própria sociedade caso fosse entendido que determinado tema era “uma ofensa moral à ordem   pública   e   aos   bons costumes”.   Apresenta   um   breve   histórico   sobre   temas   diversificados   como   incestos,adultérios, separação de casais, bigamia, subversão, racismo, etc., assuntos que apesar de nãoserem na maioria das vezes abordados de maneira explícita nas novelas,  não tendo assim, umdestaque principal na trama, dificilmente passavam no crivo dos censores. Aborda o papel dosautores   que   muitas   vezes   tinham   suas   obras   “mutiladas”   em   virtude   da   intervenção   dacensura, sendo que muitos deles eram convocados a irem até Brasília para “dar explicações”sobre o andamento de suas respectivas tramas novelísticas. Analisa produções que tiveram suahistória modificada ou a sinopse revista pelos censores como “As Bruxas” (TUPI, 1970),“Selva de Pedra” (GLOBO, 1972), “Fogo sobre Terra” (Globo, 1974), “O Homem Proibido”(GLOBO, 1983), entre outros, além de produções com vários capítulos prontos e gravadosque sequer foram ao ar em virtude do banimento por parte da censura como “Roque Santeiro”(GLOBO, 1975) e “Despedida de Casado”, (GLOBO, 1977). Este trabalho também mostra que no período pós-ditadura, mesmo apesar não haver a censura formal, produções como“Mandala”  (GLOBO,   1987/88)  e  “Vale Tudo”  (GLOBO,  1988)   ainda sofriam  pressão   da sociedade e até mesmo de Brasília ao abordarem temas sociais e polêmicos.

Palavras-chave


Memória; Censura; Teledramaturgia

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Rev. Augustus - ISSN 1981-1896

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